terça-feira, 7 de junho de 2011

ILHEENSE OU ILHEUENSE?

Praça Castro Alves/Acervo José Nazal

Conta o historiador Arléo Barbosa que até meados da década de vinte, dois gentílicos eram usados para o nativo de Ilhéus: ilheense e ilheuense. O termo ilheense era usado pelas pessoas cultas e o outro  era mais popular. As duas formas eram discutidas pelos estudiosos da terra sem que se chegasse a qualquer conclusão. 

Em 1924, Luiz Edmundo, pseudônimo de eficiente professor de Português, da cidade, teve a ideia de submeter a questão ao veredicto do famoso filólogo João Ribeiro. Diante da exposição de motivos apresentados pelo professor de Ilhéus, o ilustre gramático respondeu da seguinte maneira:

"Resumindo a sua longa consulta vemos que a forma ilheuense é a mais popular e a ilheense a preferida por pessoas cultas. O hiato existe em ambas as formas e o hiato não é um vício, mas simples ocorrência por vezes inevitável. O hiato só é vicioso quando propositadamente empregado, a não ser para qualquer efeito onomatopaico. O contrário seria condenar todas as vozes que contém hiatos e são inumeráveis.

De todas as formas propostas a que me parece mais razoável é a que não altera a palavra primitiva, que de si mesma é um nome gentílico. Entendendo que os ilhéus é designação  suficiente para os habitantes do lugar como os dos "bornéus" e o dos jaós ou jaús, naturais de Jaúa (hoje mais comum é Java) e os maranhões expressão antiga.

Os nomes gentílicos oferecem grande variedade de formas com sufixo: ano, ense, iço etc. No Brasil, o sufixo ista exemplifica-se em geralista (habitante dos geraes, campo ou planalto interior) e nortista, sulista (habitante do norte e do sul) expressões desconhecidas em Portugal e ali designadas como brasileirismo.

Poder-se-ia dizer de vez de Ilhéus ou ilheistas, como propriedade igual à dos nomes citados. Não aconselhamos, porém, um emprego sem uso, que ainda não foi consagrado pelo povo que é em geal, o árbitro nessas indecisões.

Nenhum dos termos apontados desmerece o apoio que receberam: ilheense e ilheuense. Eu diria Ilhéus, ou ilheista, preferentemente a primeira. Causa espécie que não tenha aparecido na sua resenha o termo-ilheano de pronúncia mais suave que ilheuense ou mesmo ilheense.

Como quer que seja, parece que o tempo dirá a última palavra nessas vacilações. Não é este o caso único a registrar entre os gentílicos locais brasileiros que são por vezes extravagantes como Matogrossense ou Riograndense do sul, que parecem já agora inevitáveis e seria tolices por embargos a essas palavras sesquipedaes análogas São Johanenses d´El Rei.

A cidade do Rio de Janeiro adotou "carioca" como gentílico local e o Estado do Rio de Janeiro o nome erudito de "fluminense" neologismos cômodos. 

O helenista Vilhena no princípio do século passado criou o termo erudito "soteropolitano" (de soterópolis), Cidade do Salvador, para os da Bahia. Os mineiros fizeram muito bem em suprimir o segundo termo do radical Minas Gerais. 

Tudo, porém, depende do uso que conseguir generalizar-se  e a que nos devemos submeter sem acoimar. Essa a verdadeira lição nas questões do vocabulário. Também esse é o momento mais propício às pessoas doutas que queiram intervir com esperança de resultado aproveitável". 
Ass. João Ribeiro.

Atualmente, o gentílico usado é ilheense. Tudo indica que as pessoas doutas conseguiram influenciar e o tempo, como diria o grande estudioso da língua portuguesa, deu a sua última palavra.

(Notícia Histórica de Ilhéus, Carlos Alberto Arléo Barbosa, pp.75-6)

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