domingo, 29 de maio de 2011

A PUXADA DO MASTRO EM OLIVENÇA (origem)

Puxada Mastro/Foto Mary Melgaço

No distrito de Olivença o culto a São Sebastião, que teve sua origem no início do século XVIII, é realizado com missas, promessas e em sua festa que acontece todos os anos no mês de janeiro.

A festa da Puxada do Mastro de São Sebastião possui elementos indígenas e dos folguedos populares das festas religiosas da Península Ibérica. O principal símbolo da festividade, o mastro, é utilizado pela Igreja Católica para sustentar bandeiras de santos em frente aos templos, mas também fazia parte dos rituais de consagração do espaço de sociedades arcaicas e dos ritos mágicos e brincadeiras de vários grupos indígenas brasileiros. (...)

Existia também em algumas tribos indígenas do Xingu uma competição chamada corrida das toras, na qual os índios se dividiam em dois grupos e cortavam duas árvores para a realização da corrida. Eles carregavam as toras nos ombros até a aldeia. O grupo que conseguia chegar primeiro tinha o direito de fincar o madeiro no centro da aldeia e era considerado o campeão.

A festa do Mastro de São Sebastião, em Olivença, parece ser um resquício da corrida de toras, pois o corte e a puxada da madeira até a praça da igreja possuem algumas características dessa competição. Porém, a partir do momento que o tronco chega à praça da igreja, a festa deixa de lado as características da competição e passa a ter o significado religioso, pois ele servirá para sustentar a pinta da imagem de São Sebastião. O mastro simboliza ao mesmo tempo a cristianização e a superioridade do cristianismo sobre a religião indígena. Além disso, o madeiro sagrado serve para a consagração do espaço e como eixo de comunicação com o céu.

Praça Cláudio Magalhães, palco da festa com a Igreja ao fundo

A aldeia de Olivença foi construída sobre uma pequena montanha, região mais alta e, portanto, mais perto do céu. No centro da colina foi erguida a igreja e, em frente dela, a cruz. O templo é por excelência o eixo da ligação entre os três níveis cósmicos e ao seu redor, no espaço que transcende o profano, foram construídas as habitações. A cruz, por sua vez, simboliza a tomada de posse da terra em nome de Cristo e a cristianização. E a imagem de Nossa Senhora segura uma escada, que também implica no desejo de subida em direção a Deus. Todos esses elementos demonstram a necessidade de ligação entre o céu, a terra e as regiões inferiores.(...)

Durante toda a festa, desde o corte da madeira até o momento de fincar o mastro em frente à igreja, os índios louvavam a São Sebastião fazendo orações, pedidos, promessas e agradecimentos pelas graças recebidas. Mas a louvação se fazia também pela música e dança. Além disso, retiravam a casca ou pedaços da madeira para fazer chás ou guardá-los como amuletos.

Havia também o compromisso de realizar a festa todos os anos para que São Sebastião protegesse a população. Acreditavam que se a Puxada do Mastro não fosse  realizada e se o mastro antigo e desgastado não fosse substituído, um grande mal se abateria sobre Olivença. O mal - alguma guerra ou epidemia - significaria a catástrofe, o fim da ordem e o regresso ao caos. Festejar o santo anualmente era, portanto, uma garantia da renovação do cosmo.

Fonte: A Puxada do Mastro - Transformações históricas da festa
de São Sebastião em Olivença (Ilhéus-BA), Edilece Souza Couto, pp.63-70.